quarta-feira, 23 de outubro de 2013

LUA


Eis que surge, acordada precocemente, após sua espera calma para reinar absoluta no escurecer das horas, a Lua. Soberana, estável, convicta e impassível às mudanças dos comportamentos alheios frente ao seu despudor. Surge, sendo ela mesma e sempre outra. Fechada em si, enquanto transborda marés que não a alcançam. Absurda em sua fortaleza análoga à personificação do “para sempre”, como se jamais fosse esvaziar-se. Estática, falsamente estática, porque poucos se permitem ou podem mirá-la em seus leves movimentos, sua dança de suaves encantos. Impermeável à histeria dos loucos, à inquietação dos lobos, ao uivo dos amantes febris. Surge sedutora e permanece absorta em sua própria beleza. Narcisa, com sua única e intermitente curva, se espalha sobre as águas, submete à decadência as algas e reina, paradoxalmente, fria, incandescente, desinteressada, ardente.

EVOÉ, Astro das Emoções

Como poeta louco e revolucionário, vi que o sonho é uma delícia, a fantasia é necessária, e a paixão — indispensável. Porque todo realismo tende a ser conservador. Essencialmente conservador.

Edson Marques




Está cada dia mais difícil encarar os dias? Acha-se mais cansada por ser tão exposição? Chora e ri com a mesma intensidade na emoção? 
Pois, bem vinda ao clube da entrega!
Porque ser presença nos segundos, nos minutos das horas dos dias, requer um pouco mais que simplesmente viver.
Viver por viver é respirar, tão somente fazer entrar e fazer sair o ar que respiramos.
Quero mais. Quero todo passatempo em dias de alegrias supremas.
Quero o amor na mais alta rotação dos minutos.
Quero paixão que acelere as batidas do lado esquerdo.
Quero tom de leveza que me absorva. Que me integre.
Com o instante, com o significado sagrado da palavra vida.
Quero partidas e idas sem querer entendê-las.
Quero brincar, beber, berrar, dormir, gargalhar, suar, perceber, querer, ser.
Quero agradecer. E muito. E sempre.
Porque me fiz uma verdade que veio incomodar.
Porque eu cismei um dia, em acreditar.

Dan Cezar

domingo, 20 de outubro de 2013


Toda saudade é um canto. Toda saudade é um silêncio. Uma revoada de ecos. Um ninho de ocos. Toda saudade é um pouco esquecer. Toda saudade é uma prisão. Uma corrente, um grilhão. Toda saudade é ilusão. Um medo, um pedido, uma ilha, um desvão. Toda saudade é um visgo. Toda saudade é uma faca, uma espada. Covardia e coragem. Um canto, um silêncio, um limbo, uma Sé. Um tanto que fere, um vazio, um morrer. Toda saudade é um ego. Solidão, distância, apego. Toda saudade é um pouco de fé. Toda saudade é.

Van Luchiari 

O amor maduro...


"O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas quase silencioso. Não é menor em extensão.
É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.
O amor maduro somente aceita viver os problemas da felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.
O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão.
Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e a sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança.
O amor maduro não disputa, não cobra, pouco pergunta, menos quer saber. Teme, sim. Porém, não faz do temor, argumento.
Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado e importante porque redentor de todos os equívocos do passado.
O amor maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é filho da capacidade de crer e continuar, é o sentimento que se manteve mais forte depois de todas as ameaças, guerras ou inundações existenciais com epidemias de ciúme.
O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados cheios de sementes.
Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe.
Não exige, dá. Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz.
Só teme o que cansa, machuca ou desgasta."

Arthur da Távola